viernes, 17 de marzo de 2017

Ela No Voo

Por Carolina Alzate Gouzy


Esse era um daqueles voos que parece que, ao contrario do esperado, fazem as distancias aumentarem. Não adiantou comprar o último livro da sua escritora favorita, nem a busca intensa por resgatar algum filme descente da lista sempre desatualizada que a aerolinha oferecia. Parecia simplesmente que o voo e todo o que o envolvia estava inventado para gerar um tedio imenso.
As companhias ao redor eram vizinhos estranhos à sua aparente realidade individual e única. Todas e todos pareciam de fato estar curtindo. O menino sentado na janela parecia hipnotizado jogando numa tablete. O menino tinha ganhado o privilegio de ficar nesse lugar que inicialmente era o dela, só pela sua pequena idade (com certeza não pela sua simpatia inexistente). O pai, que ia sentado no meio dos dois, confundia os verbos de cochilar e ler o jornal e os fundia numa harmonia surpreendente. Na sua direita, depois do corredor, uma senhora de idade dormia tranquilamente a pesar dos roncos agudos e frequentes. Na verdade nenhuma dessas presenças absortas a incomodava, só gerava uma inveja dissimulável mas patente...por que também para ela não poderia ser um simples e agradável voo?.
Continuando com sua tentativa de fugir ao tedio voltou por quarta vez ao banheiro, só como escusa para esticar os pês e matar um pouco mais de tempo. Rapidamente resolveu o que tinha que ser resolvido nesse espaço minúsculo, mas quando se dispunha a sair do banheiro a tranca não cedeu. Ela tentou a segunda vez e nada, a terceira já perdeu um pouco a paciência, na oitava começou a ter medo e na decima simplesmente ficou com a tranca na mão. Nesse momento duvidou do que fazer já que constituía uma vergonha possivelmente desnecessária pedir ajuda, mas depois de mais tentativas inúteis teve que se render e inicialmente falar alto até finalmente gritar já que ninguém parecia escutar. As aeromoças falavam atrás da porta tentando tranquiliza-la e ouvia como uma e outra pessoa forjavam a porta, mas nada. Depois de meia hora de tentativas sem sucesso, uma aeromoça com uma voz muito calma pediu a ela paciência e desculpas já que no voo não havia ferramentas para poder solucionar o impasse, mas que assim que pousar chegaria uma equipe capacitada para libera-la. Ela demorou um tempo para responder, já que não acreditava o que estava acontecendo e nem que o voo poderia ficar ainda pior. Concordou com a aeromoça segurando as lágrimas de raiva que sentia com ela, com tudo e com todos. Sentou-se no vaso, rendida à sua realidade, e levando a mão no cabelo sentiu a caneta que tinha pego para segura-lo. Tinha um tempo que não sentia uma gratidão tão grande. Tirou a tampa da caneta, sorriu, e começou a escrever com boa caligrafia e ortografia na parede do banheiro: “Esse era um daqueles voos que parece que, ao contrario do esperado, fazem as distancias aumentarem...”.

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