viernes, 10 de marzo de 2017

Deformidade

Cuento participante en la Categoría Idiomas

Por Santiago García Rendón

Às vezes, até parece que a maçã esquerda do seu rosto não é tão perfeita assim e chega a estragar a simetria facial, pelo contrário, é algo maior, desproporcional. Então ela fica pensando e percebe que é muito menor em relação à direita. “Acho que não.” ela diz a si mesma, “É igual, é perfeitamente simétrica.”. Acontece o mesmo com o resto da metade esquerda do rosto que aparenta ser muito suave, formando sua delicada face. 

Assim, passa horas em frente ao espelho, porém a construção do seu rosto nos últimos cinco segundos se diferencia radicalmente da que tinha feito dez segundos antes, e deste modo o lado esquerdo de sua face toma as mais diversas formas em sua memória; enormes mandíbulas em alto relevo que poderiam ser tocadas à doze centímetros da superfície do rosto, pontiagudos prismas de carne constituindo as bochechas, pedaços de pele flácida deslizando pela face e caindo grotescamente quase até chegar ao seio. Logo começa a se desesperar e imaginar mas agora o que vê é pior, esta parte não é mais de carne e osso, é de plástico, de isopor, de metal, de arame farpado.

Então chora, grita, cai no mais profundo desespero, com medo tenta tocar esse lado do rosto, fecha os olhos, procurando cegar o seu tato, sua mão retorna involuntariamente, quando finalmente consegue colocá-la na sobrancelha esquerda, com toda sua força mantém os olhos fechados, começa a descer e sente o desnível, um afundamento onde deveria estar a maçã do rosto e mais embaixo sua pele está seca, enrugada, cheia de cicatrizes.

Ela respira, abre os olhos vagarosamente, se olha, admira o seu novo rosto, aquele que tinha ganho no momento em que os cacos de vidro do para-bisa se incrustaram em suas bochechas, quando a maçã do seu rosto se desgastou ao ser arrastada e ralada no pavimento. Chocada, procura as fotografias anteriores ao acidente, mas não consegue se encontrar, não se reconhece, não pode se lembrar de sua antiga face, essa face que já não a pertence mais, que nem ao menos faz parte da sua memória, que sume em meio a DEFORMIDADE.  

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